Refletindo sobre o Bhagavad Gita, o diálogo sagrado entre Krishna e Arjuna, na batalha de Kurukeshtra (espinha dorsal), senti a inspiração de escrever sobre o AMOR em sua essência, e sobre como os aspectos de nossas percepções humanas influenciam em nosso discernimento sobre o que é amor.
Muitas vezes ouvimos sonoros e lindos “EU TE AMO!”. Com certeza, este é um dos mantras mais lindos que uma pessoa pode recitar. Porém a distância entre estas palavras e o real sentimento, muitas vezes é grande, principalmente pela falta de compreensão que muitos possuem pela palavra amor. Esse é um dos motivos que muitos autores e espiritualistas gostam de utilizar o termo AMOR INCONDICIONAL, para descrever o estado mais profundo do amor, que é a manifestação eterna de DEUS.
Provavelmente um casal realmente no fogo da paixão diz: eu te amo, e frases do tipo com muito entusiasmo. Falam a todos e aos quatro ventos seus sentimentos, pois a paixão é a vibração muito intensa que anula a mente, então “paramos de raciocinar” e nos entregamos. Assim ficamos abertos para despertar o chacra do coração, que comunga intensamente com a comunhão plena da conexão de duas almas.
Estes encontros são mágicos e especiais, mas muitos deles logo que mudam seus interesses, seus motivos ou caminhos, os casais se separam. Frutos de várias vidas repletas de eu te amos, tanto ditos, como ouvidos, lembramos de todas as pessoas que ora trocamos esta frase que hora estão afastadas, às vezes ainda cultivando mágoas e ressentimentos por desentendimentos, normais entre casais.
Na tarefa de esclarecer os irmãos e irmãs em seus relacionamentos amorosos, a descrição das três gunas pode ser muito útil, e ajudar muitos casais e solteiros a aprimorarem sua maneira amar. Podemos seguir para dentro da fonte do amor, encontrando em nós mesmos o verdadeiro caminho, que é o amor próprio, ao seu verdadeiro Espírito interior, DEUS, que ora chamamos de amor incondicional.
A palavra amor tem várias denominações diferentes e podemos associar algumas raízes ao seu significado, e transmutar a toda a confusão feita em torno desta poderosa frase. Algumas concepções como o filos, eros, e ágape representam tipos diferenciados de representar e expressar o amor manifesto e o amor incondicional, que permeia tudo mas também está além de qualquer manifestação.
Nos ensinamentos de Krishna, podemos aludir como o amor incondicional o amor que Krishna sente por Arjuna e que permeia todo o universo. Krishna, assim como Jesus Cristo, representa o filho de Deus manifesto, o amor incondicional que encarnou neste planeta. Os ensinamentos dos mestres falam sobre a verdadeira libertação que nossa entrega ao amor pode proporcionar.

O amor incondicional está além da manifestação e ao mesmo tempo permeia e cria todas as realidades através da vibração cósmica de AUM, que é o som de Deus dizendo que nos ama, e criando toda a manifestação em todos os universos.
Entre os amores manifestos, nas três qualidades da natureza manifesta podemos identificar como amamos as pessoas e se realmente somos coerentes ao dizer “eu te amo”.
Analisando tamas, a crista da onda, que representa a separação mais acentuada do ego, com oceano da consciência cósmica compreendemos por que muitas vezes o desejo sexual assume papel tão intenso nas relações amorosas e á a principal manifestação em casais desarmônicos. Tamoguna representa a ignorância espiritual e o maior afastamento do verdadeiro amor incondicional que habita nosso Ser. Nos casos mais graves, esta ignorância extrema leva a pratica de violência sexual.
Tamoguna pode ser associada principalmente aos dois chacras inferiores, e a estagnação da energia concentrada na densidade da matéria e da sexualidade, impede o fluxo da energia vital até o centro do coração que depois segue seu caminho de plena comunhão na coroa.
Em rajas temos que analisar algumas sutilezas em seus pormenores. Como rajoguna representa o meio da onda, ela tem sua parte mais próxima ao grande oceano, raja-sattwa, sua parte mediana e sua parte próxima da crista raja-tamas. Neste manifestação de rajas percebemos o verdadeiro desafio de viver o amor verdadeiramente e seguir para a entrega na bem aventurança e eterna felicidade.
As tendências raja-tamas são fortemente associadas à paixão. A paixão demonstra o desejo ardente do casal de desfrutar a comunhão do amor principalmente através dos prazeres sexuais. Esta tendência tem a capacidade de atrair uma série de outros fenômenos que acabam por comprometer os relacionamentos. A paixão tem seus altos e baixos. Assim como proporciona intensas carícias pode engendrar brigas e discussões, baseada em ciúmes, inseguranças e medos, muito comuns nas relações a dois. Este nível de sentimento tem a tendência de nos atrair para tamas e para o obscurecimento da consciência. Como cita Paramahansa Yogananda: “a decida pelo menos tem um atrativo, ela parece fácil”, essa paixão induz a percepção do amor a ser canalizada excessivamente aos sentidos físicos, por tanto ao exterior, criando apegos e outros laços de ilusão.

Quando a paixão é transmutada para o próximo nível ela se torna mais sublime e abre as portas para o amor. Uma paixão verdadeira que continua a florescer no sentido do amor segue o caminho para a serenidade eterna e inabalável do amor incondicional. Esta tendência é manifesta quando a paixão começa a se aprimorar e refinada passa exibir um caráter mais expandido de amor, que seria o amor entre irmãos. Podemos dizer sim que somos apaixonados pelos nossos amigos, e que esta paixão normalmente é mais refinada. O relacionamento fraterno é comumente mais sutil, sem tantos sentimentos de cobranças, ciúmes e invejas, mais constantes no relacionamento dos casais, o que aproxima mais a consciência de vivenciar o amor incondicional.
Sattwa representa neste caso o amor e a compaixão em sua plenitude da condição humana. O discernimento e compreensão são a base do sentimento e o motivo deste amor estar manifesto do universo é propagar as vibrações eternas imanentes do nosso criador. O amor sáttwico é o amor desinteressado e podemos seguramente compará-lo ao amor sacerdotal. O ágape é uma palavra que além de caracterizar a refeição da santa ceia, simboliza o ensinamento e preservação da palavra do amor incondicional ensinado por Jesus Cristo. Representa o amor do devoto que converte toda sua energia para servir ao próximo. Este amor normalmente é cultivado por discípulos, monges, pelos casais e seres plenos em suas escolhas, onde o amor transcende as vontades pessoais e passa a beneficiar um número muito maior de pessoas. Esse sentimento de maxi- fraternalismo sem “pré-conceitos” é um verdadeiro conceito de convivência cosmoética, um amor altruísta.
O AMOR é INCONDICIONAL, está além das três gunas e de todas as manifestações da natureza em seus incontáveis universos, mas está mais perto do que muitos imaginam, está dentro de nós. No caminho interior encontramos nossa verdadeira alma gêmea, que provém de nossa conexão integral com o SELF ou SER que é Deus. Neste estado não somos mais ligados ao ter e sim ao ser. Ao invés de termos alguém para amar, somos alguém que emana o amor. Nesta troca, ligados sempre ao presente transcendemos todas as amarras e condicionamentos criados pela ilusão da separação e vencemos o ego.

Neste caminho podemos sugerir como primeiro passo: digamos mais eu te amo. Dizer várias vezes, mesmo que analisando estas palavras nosso sentimento ainda não pareça sáttwico. Ao dizer atraímos cada vez mais amor para nosso campo de vibração e estaremos mais abertos para enxergar o amor em todas as situações.Então vamos procurar sentir mais o amor. Vamos sentir com intensidade e emanar com força esta vibração, para que nossa conexão de amor se estenda para todos. Vamos seguir o que Cristo ensinou e vamos amar os inimigos, os opressores, os mentirosos e mal-feitores. Vamos estender este amor até todas as formas vivas do universo, à todos os animais, plantas e seres vivemos. Continuemos amando mais além, os elementos, a terra, a água, o fogo, o ar, o éter… então haverá um momento de grande expansão que passaremos a SER o EU TE AMO, ai não existem palavras, expressões, condicionamentos, limites… simplesmente existimos como um só SER, como o AMOR.
Mautama Krishnarabi
(texto escrito em 2010)